A Estação Primeira de Mangueira deu a conhecer, ontem, os 14 sambas que disputaram o título do carnaval em 2018. O enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco” definiu uma oposição frontal às propostas da Prefeitura em relação ao carnaval: não reconhecimento da festa, diminuição da verba oficial para os desfiles e, como já falei em outro lugar, tentativas de por “corda no meu bloco” além de acenar perigosamente para o mercado.
O enredo da Estação Primeira, reconhece o crescimento e consolidação do carnaval de rua. Carnaval que tem uma alegria que é “nossa riqueza”, além de ter tido a capacidade de pôr o “dedo na cara e assina (r) a direção de novo” nos diversos processos de carnavalização Brasil afora desde os movimentos de junho/julho de 2013.
Na mesma batida, o enredo repolitiza a Sapucaí e joga uma rede que pode atrair aqueles que se afastaram de uma avenida que privilegiou o espetáculo, o glamour a desodorização do espaço.
O enredo do Leandro Vieira propõe invadir as frestas da festa e mostrar na avenida que o “Rei está nú”. Clama “pelo espírito de “um” Arengueiro capaz de “atiçar e embalar a multidão”. Propõe um samba de confronto, de luta que não todas as parcerias conseguiram realizar.
Se houver afinidade entre o carnavalesco e a direção da escola é provável que cheguem na final as parcerias abaixo:
- Tantinho, Alípio Carmo e Guilherme Sá, Paulinho Bandolim, Ronaldo Barcellos, Lacyr D’Mangueira e Guto Garcia, vem com um samba guerreiro, que sintetiza em um verso aquilo engasgado na garganta da sociedade que não bateu panela “chega uma hora que chega”, além de render tributo a Jorge Aragão em Coisa de Pele, afirma que:
SE É PECADO SAMBAR, NÃO QUEREMOS PERDÃO
IMPOSSÍVEL NEGAR A NOSSA DEVOÇÃO
COM DINHEIRO OU SEM DINHEIRO
VEM CANTAR PRO MUNDO INTEIRO
SILENCIAR A MANGUEIRA NÃO
2. Hélio Turco, Felipe Filosofo, Deivid Domenico, Serjão e Silvio Mama. Samba combativo do mesmo naipe que seus autores. Deivid é parceiro e conseguiu incorporar uma referência à manifestação, samba de sua autoria que vem sendo cantado com gosto e entusiasmo em 9 de cada 10 manifestações. A parceria revela aquilo que o Planalto finge não ouvir. De fato, “UM GRITO JÁ ECOOU/NÃO DÁ MAIS PRA SEGURAR”, é mote para reivindicar a rua como espaço de congraçamento, de comunicação, de luta e de festa:
DERRUBEI A REPRESSÃO DA ALEGRIA
A RUA ME ENSINOU A COMPOR
A LIBERDADE NÃO COMBINA COM SENHOR
E ASSIM NOS BRAÇOS DO POVO
O BLOCO DE SUJO É A VOZ DA NAÇÃO
3. Lequinho, Júnior Fionda, Alemão do Cavaco, Gabriel Machado, Wagner Santos, Gabriel Martins e Igor Leal vem para defender o bicampeonato.
Mas, como tudo é possível, tem o samba do Cesinha Maluco e do meu parceiro -bom de caneta e boa voz – hoje intelectual orgânico do Bispo que resolveu levar sua experiência no carnaval de rua para a avenida. Se juntou com a tribo do Índio da Costa, família garrada no poder municipal faz tempo e resolveram colocar na disputa um samba feito nas normas da arte mas, na minha leitura, sem a força e o compromisso pela luta que a sinopse indica.
Vai que exista um desentendimento entre o carnavalesco e a direção da escola ( ou da LIESA) e estas resolvam desinvestir nas críticas “a tudo isso que está aí” compondo, uma saída negociada, pela via de um samba morno.
Cá por mim estou torcendo pelos dois primeiros. Evoé.